top of page
  • Foto do escritorAamarte

Musicalização fortalece saúde mental de crianças e adolescentes



Estudos recentes têm demonstrado o impacto da pandemia no equilíbrio emocional de crianças e adolescentes. Dentre as inúmeras formas de lidar com o medo e a insegurança comuns a esse período, destaca-se a aproximação com a música. Os educadores da Associação dos Amigos da Arte (AAMARTE), que há quase 20 anos se dedicam à formação musical de crianças e jovens, puderam nesse período pandêmico trabalhar a dimensão do cuidado para além do compromisso com a capacitação técnica dos estudantes.


A arte pode ajudar a ressignificar afetos, na medida em que é linguagem, expressão e faz o sujeito falar, podendo assim reorganizar os pensamentos, compor novos arcabouços, ideias e evocar memórias. Para o médico psiquiatra e psicanalista, André Aires, a arte pode fazer um contraponto às duras questões simbólicas trazidas pela pandemia. “Talvez seja difícil promover algum estudo que traduza para o discurso científico o papel das diversas formas de arte para manutenção da saúde mental, mas é inegável”, acredita.


Segundo o médico, a música, especificamente, contribui muito para que crianças e adolescentes consigam se dar conta da complexidade que é habitar a linguagem, da importância de se entenderem como cidadãos, além de relaxar, se divertir e interagir com os outros. “Aulas de música em tempos tão difíceis ajudam nesse processo de adaptação, ressaltando que muitas crianças e adolescentes não puderam ir à escola, viveram lutos e privações, contribuindo com o aumento significativo da prevalência de transtornos psíquicos nessa faixa etária”.


Como muitas instituições formadoras, a AAMARTE buscou se reinventar, criando novos mecanismos capazes de manter os estudantes em contato com a música, apesar da necessidade de isolamento. Utilizou-se de recursos tecnológicos para manter as aulas e ao mesmo tempo construiu alternativas para os alunos de mais baixa renda, que tiveram dificuldade de acesso aos conteúdos online. Os projetos da AAMARTE envolvem famílias em situação de vulnerabilidade social em alguns municípios do Ceará. Mais de duas mil crianças e adolescentes já foram atendidas pela instituição.


A psicóloga Natália Ferreira é terapeuta de um grupo de crianças, que utiliza a musicalidade como estratégia de mediação. “A arte, de maneira geral, nos lança em uma nova linguagem, em uma nova forma de dizer. Expressar o que se sente é essencial não apenas para o abrandamento de alguns sentimentos, como também para a transmissão e intercomunicação. É uma via de mão dupla: a arte transforma o artista e transforma quem a vê e escuta”, reflete.


De acordo com Natália Ferreira, a música, como um objeto artístico, é uma excelente ferramenta de expressão para crianças e adolescentes. “O período de desenvolvimento que engloba essas fases da vida tem particularidades que nem sempre são possíveis de serem comunicadas, senão através da arte. A criança, repleta de espontaneidades e sentimentos diante de um mundo que a ela se apresenta, pode ter um desenvolvimento verdadeiramente mais autêntico se a música for sua aliada”.


O mesmo é possível com adolescentes, que vivem intensas transformações simbólicas e materiais, ansiosos pela liberdade que a vida adulta assegura. Na avaliação da psicóloga, é essencial que a música esteja presente no desenvolvimento dos pequenos sujeitos. “Mais fundamental ainda em se tratando de uma realidade brasileira, somada ao contexto pandêmico, onde muitos não têm acesso ao essencial para um desenvolvimento pleno”, conclui.

31 visualizações0 comentário
bottom of page