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  • Foto do escritorAamarte

A música que salva vidas



A música faz parte da vida do professor Nadilson Martins Gama desde a sua infância. O pai tocava violino na Igreja Católica, além de bandolim e cavaquinho em rodas de choro de São Paulo. Já os irmãos, eram instrumentistas de violino e violoncelo, também no espaço religioso. “Então, minha escolha por violino foi automática. Iniciei meus estudos aos 12 anos e aos 18 fiz concurso e entrei para a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, onde permaneci durante 35 anos”, recorda o músico.


Na sua trajetória, ele acumula também a experiência de ter sido chefe dos violinos da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo e da Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, além de violinista principal (spalla) da Orquestra do Programa Prelúdio da TV Cultura de São Paulo. Ao se aposentar em 2018, Nadilson se mudou para Fortaleza, acompanhando a esposa que havia passado em um concurso na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi nessa época que teve o primeiro contato com a Associação dos Amigos da Arte (AAMARTE). “Aqui conhecemos o maestro Arley França, que me convidou para dar aulas no seu projeto social e mais tarde para integrar a OCB (Orquestra Contemporânea Brasileira) na categoria de spalla”.


Professor de violino e viola na associação - onde orienta os aprendizes na arte de tocar violino - Nadilson fala sobre sua função na OCB. “Na orquestra, o meu cargo é o de spalla. Depois do maestro, tenho a função de líder do grupo orquestral, no que diz respeito ao aspecto técnico musical. O spalla é o intercessor entre o maestro e os músicos, atuando como conselheiro do maestro na escolha dos caminhos a tomar em determinadas situações, sejam disciplinares ou técnico musicais”, explica.


A trajetória profissional do maestro se confunde com a própria vida. “Nós, profissionais da música, costumamos dizer: “fui picado pelo bichinho da música”. Uma vez que você toma o gosto por tocar em uma orquestra sinfônica de 120 elementos, como foi o meu caso, seria simplesmente impossível ficar sem tocar. Além do que, eu sou fruto de inclusão social, apesar de não ter sido educado musicalmente em projeto social”.


A herança musical livrou Nadilson das consequências da desigualdade social, que resultaram na perda de amigos para a violência. “No meu tempo de estudos, o terceiro setor nem existia ainda, e fui educado em sistema conservatorial. Oriundo de classe social baixa e morador de periferia, eu convivi com o risco social. Posso dizer, com propriedade, que a música me salvou. Dos meus amigos de infância, quatro morreram em confronto com a polícia e um está vivo, mas paraplégico, por confronto entre gangues armadas”, complementa ele.


Como professor da AAMARTE, Nadilson fala que, no projeto social desenvolvido pela associação, não são ensinados aos alunos apenas o domínio de um instrumento. “Muitos alunos vêm com deficiência educacional, falta de perspectiva para suas vidas, carentes de amor e carinho e grande potencial para indisciplina. Nós trabalhamos todos esses aspectos através do ensino de um instrumento”.


Na sua avaliação, o período da pandemia foi cruel com “todos”, mas muitos alunos da associação superaram as dificuldades, com desempenho até melhor do que tinham durante as aulas presenciais. “Com outros ocorreu o contrário, já que foram muito afetados em sua saúde emocional. Somos unânimes em reconhecer que o ensino presencial é insubstituível, mas o ensino virtual veio para ficar, pois tem seus benefícios”.


Para ele, o trabalho desenvolvido pela Orquestra Contemporânea Brasileira é único. “O Ceará é o Estado mais rico do Nordeste e, vergonhosamente, até a criação da OCB não tinha uma orquestra sinfônica. A OCB veio para preencher essa lacuna e tem tido sucesso com alta qualidade e responsabilidade”.


O músico também avalia positivamente a Temporada 2021, apresentada pela OCB e gravada no Theatro José de Alencar em plena pandemia. “Mais uma vez devo dizer que na pandemia não há nada de bom, mas como fomos obrigados a fazer uso do formato virtual, nós conseguimos atingir um público que normalmente não estaria no teatro presencialmente. E o público que estaria presente assistiu aos nossos concertos online, com ‘vontade de estar lá assistindo ao vivo’. Penso que depois dessa experiência, para as próximas temporadas, é possível que adotemos os dois formatos, presencial e online, pois há público tanto para um como para outro”.

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