Quando se pensa em uma Orquestra profissional, qual a relação possível com o universo infantil? Na maioria dos casos, talvez não se observe nenhuma ligação aparente. No entanto, um olhar sobre a trajetória da Orquestra Contemporânea Brasileira (OCB) é capaz de revelar um grande investimento na formação e no desenvolvimento musical das crianças. Centenas delas, a maioria de famílias de baixa renda, estão nesse momento aprendendo a tocar instrumentos como violino, saxofone e flauta em algum município cearense.
Algumas dessas crianças podem vir a ter a chance de estudar no exterior e se tornar músico ou regente de uma grande orquestra. É o caso do maestro Arley França, regente da OCB, que começou como aluno de um projeto social do Piamarta, aprendeu regência em cursos na Inglaterra, Itália e Estados Unidos e hoje dedica parte do seu tempo a criar oportunidades semelhantes para outras crianças. Arley coordena o projeto de Educação Musical da OCB, uma iniciativa que em pouco mais de um ano criou, em parceria com as prefeituras, quase uma dezena de novos projetos de formação musical no Estado. A maioria dessas crianças já está fazendo parte de uma Orquestra Infantojuvenil no seu município.
Na história de cada uma das crianças que ingressam na formação há um potencial ilimitado de possibilidades de atuação. Peguemos o exemplo do maestro da Orquestra de Sopros de Pindoretama e coordenador pedagógico da AAMARTE (Associação dos Amigos da Arte), Adriano Martins. O projeto de Pindoretama foi pioneiro na educação musical desses jovens, acumulando quase 20 anos de experiência. Adriano Martins, antes de se tornar regente e educador, aprendeu a ser músico na AAMARTE e hoje também se dedica à formação de centenas de crianças.
Mas a educação musical é apenas uma de muitas das incursões da OCB no universo infantil. A orquestra entende como fundamental a formação de um público infantil que se aproxime e saiba apreciar a música erudita. Por isso, nos projetos da Orquestra, há sempre a preocupação em realizar concertos didáticos, onde estudantes são convidados a participar das apresentações. Estimulados a interagir com os músicos, eles passam a entender as singularidades no funcionamento de uma Orquestra. Desde 2019, vêm sendo realizados vários concertos nesse formato no Cineteatro São Luiz.
“As apresentações são direcionadas sobretudo a crianças e jovens alunos de escolas públicas, que passam a conhecer os instrumentos que compõem a orquestra e a sua função no grupo, como também têm a oportunidade de apreciar músicas que marcaram o repertório orquestral e descobrir como maestro e músicos precisam atuar para que a orquestra funcione perfeitamente. Espera-se através dessa iniciativa tornar a música de concerto mais acessível à população e criar novos públicos para este tipo de repertório”, afirma o maestro Arley.
Os primeiros passos da OCB foram dados em 2016, como fruto de uma ação cultural do Sistema Brasileiro de Bandas e Orquestras (Sinfonia.br), em parceria com a Associação dos Amigos da Arte (AAMARTE). Desde então o grupo já realizou grandes apresentações em vários municípios cearenses, sobretudo em Fortaleza, no Cineteatro São Luiz, quando iniciou uma residência artística com o patrocínio da EDP e apoio cultural do Instituto EDP.
Como uma das características da Orquestra Contemporânea Brasileira é sua abertura para outros gêneros musicais e outras linguagens artísticas, no universo infantil ela desenvolveu concertos em parceria com o grupo cênico-musical Dona Zefinha. No dia 13 de outubro de 2019, em uma apresentação memorável no Cinetratro São Luiz, foram interpretadas músicas que marcaram a infância de diferentes gerações. Na foto que ilustra esse texto, o maestro Arley França e o diretor do grupo Dona Zefinha, Orlângelo Leal, dividem o palco para levar alegria e diversão aos jovens. Seja no campo da educação ou da diversão, como diria o grupo infantil Palavra Cantada: “Criança não trabalha. Criança dá trabalho!”
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